Nivaldo Souza
Ataídes Oliveira (PSDB-TO), apontado pela PF como ‘amigo’ do contraventor Carlos Augusto Ramos, assumirá posto de João Ribeiro (PR-TO)O Senado ganhará em breve um novo integrante próximo ao bicheiro Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira. O suplente Ataídes Oliveira (PSDB-TO) deve assumir o lugar do senador João Ribeiro (PR-TO), que pedirá licença médica após ter confirmado na última segunda-feira (5), em exames no Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo, o avanço de uma doença rara que impende a produção de plaquetas brancas pelo sangue. Oliveira pode ocupar a cadeira pelo Tocantins por tempo indeterminado devido à necessidade de Ribeiro passar por um transplante de medula óssea, conforme apurou o iG.
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O suplente tocantinense aparece em gravação telefônica da Operação Monte Carlo, deflagrada pela Polícia Federal (PF), autodeclarando-se “amigo” de Carlinhos Cachoeira.
Oliveira teria encomendado reportagens no jornal O Estado de Goiás, controlado indiretamente por Cachoeira, segundo relatório da PF. Em conversa gravada no dia 4 de julho de 2011, o tucano afirmava ter “umas notas (notícias) interessantes a nível Brasil” para publicar no jornal.
O diálogo segue com Oliveira afirmando que gostaria que Cachoeira lhe "desse ou pedisse a alguém" para lhe dar acesso ao jornal. "Se tiver algum custo é comigo mesmo, viu amigo?”, prossegue a gravação. Cachoeira concorda: “Na hora, manda cobrir lá, manda cobrir lá”.
A posse do suplente ainda não tem data marcada. Isso porque Ribeiro não se decidiu pelo afastamento até o recesso, marcado para 18 de dezembro. O senador é titular da segunda secretaria do Senado e pretende renová-la nas eleições internas da Casa em fevereiro, o que garantiria espaço para PR no primeiro pelotão do Senado.
O cargo permite acomodar indicações de aliados políticos para cargos comissionados, a exemplo da recente nomeação da namorada do ex-diretor do Dnit Luiz Antônio Pagot como assessora parlamentar pelo suplente de Bairo Maggi, o senador Cidinho Santos (PR-MT).
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Oliveira já substituiu Ribeiro por 121 dias entre maio e setembro de 2011. O tucano empenhou R$ 981 mil na campanha que levou o candidato do PR ao Senado, conforme contas apresentadas ao Tribunal Regional Eleitoral do Tocantins (TRE-TO) após as eleições de 2010.
Conta milionária
Formado em direito e contabilidade, hoje com 52 anos, Oliveira é empresário com participação em grupos de segmentos variados por meio do Grupo Araguaia – como construção civil e consórcio automotivo. Ele declarou ao TRE-TO uma fortuna de R$ 15,4 milhões, em 2010, quando compôs a suplência. A declaração de bens inclui um Porsche avaliado em R$ 380 mil.
Dono de 80% da Cielo Trading Táxi Aéreo, Ataídes Oliveira emprestou a Fernando Cavendish, proprietário da Construtora Delta, um jatinho na ocasião da queda do helicóptero que mantou sete pessoas no distrito de Trancoso, em Porto Seguro, sul da Bahia.
O avião foi encomendado diretamente a ele por Cachoeira, conforme telefonema interceptado pela PF. O contraventor queria transportar para o Rio de Janeiro o ex-diretor da Delta no Centro-Oeste, Cláudio Abreu, e Cavendish. Segundo a declaração de bens, a Cielo rendeu R$ 5,97 milhões a Oliveira em 2010.
Amigos de Cachoeira
Oliveira será o segundo suplente a tomar posse no Senado após ter sido flagrado pela Operação Monte Carlo por manter ligações diretas com o contraventor. Em julho, ao assumir o lugar de Demóstenes Torres - cassado justamente pela proximidade a Cachoeira -, Wilder de Moraes (DEM-GO) apareceu em telefonema grampeado pela PF.
No diálogo com o contraventor, o democrata é lembrado por Cachoeira de que foi ele quem “te pôs na suplência (de Demóstenes), nessa secretaria (de infraestrutura de Goiás), você sabe muito bem disso”. Morais responde: "Carlinhos, pensa um cara que nunca teria encontrado um governo, que nunca teria sido bosta nenhuma. Você está falando com esse cara."
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Com a chegada do novo parlamentar, o PSDB passará a contar com uma bancada de 11 senadores. A legenda permanecerá, contudo, na terceira posição entre os partidos com mais assentos na principal casa do Congresso Nacional – atrás do PMDB (19) e PT (12). Já o PR recua de seis para cinco cadeiras no Senado.