Luísa Pécora
Único longa pernambucano na competição do evento, "Rio Doce-CDU" faz viagem pelos subúrbios de Olinda e RecifeO público do Cine PE - Festival do Audiovisual encheu o Teatro Guararapes, em Olinda, para assistir a um documentário sobre uma linha de ônibus que, por coinciência, passa ali em frente. Único pernambucano entre os sete longas na mostra competitiva do evento, "Rio Doce - CDU", de Adelina Pontual, fo exibido na segunda-feira (29) e causou nítida identificação com os espectadores, provocando risos e aplausos em vários momentos.
O filme acompanha o trajeto de cerca de uma hora e meia da longa e movimentada linha de ônibus, mostrando tanto cenas cotidianas que acontecem dentro do veículo como depoimentos de moradores e comerciantes dos entornos das paradas, num retrato maior da periferia de Olinda e Recife.
Adelina Pontual, diretora do longa 'Rio Doce - CDU'
Foto: Mariana Guerra/Divulgação
Exibição dos curtas no Teatro Guararapes
Foto: Mariana Guerra/Divulgação
Diretor do curta O Fim do Filme, André Dib
Foto: Mariana Guerra/Divulgação
Cine PE
Foto: Mariana Guerra/Divulgação
Diretor do curta A Guerra do Gibis, Rafael Terpins
Foto: Mariana Guerra/Divulgação
Diretora do curta À Luz do Dia, Joana Nin e o diretor de fotografia, Ade Muri
Foto: Mariana Guerra/Divulgação
Exibição dos curtas no Teatro Guararapes
Foto: Mariana Guerra/Divulgação
Em seu primeiro longa, a curta-metragista pernambucana pegou o Rio Doce - CDU várias vezes e em diferentes horários, além de cumprir o mesmo trajeto a pé, em busca dos personagens ideais. Durante a pesquisa, seu contato foi breve. Nas filmagens, realizou as entrevistas de fato, aproveitando também para colher depoimentos de quem encontrava na hora.
Pontual não se lembra quantos relatos reuniu (a filmagem foi realizada em 2009), mas disse que seu critério de escolha de personagens era baseado na busca por uma diversidade de vozes e na própria empatia que sentia por eles.
A empatia foi transmitida ao público do Cine PE, formado por muitos usuários reais da linha de ônibus, que riam dos depoimentos sobre a demora ou a precariedade da viagem. Apesar do lado cômico, o filme também pretende discutir questões centrais da vida urbana, desde a mobilidade e o trânsito até a verticalização das cidades - também abordada na premiada ficção pernambucana "O Som ao Redor", de Kleber Mendonça Filho.
"Quis propor vários temas e, como o ônibus, ir passando por eles, sem entrar muito, mas soltando farpas", afirma Pontual. "Espero que não fique só no humor e na risada."
Mais do que os depoimentos, o filme impressiona pela qualidade técnica, com pequenas câmeras sendo presas ao ônibus como espelhos, para incorporar imagens da cidade.
Há, também, uma boa cena em que se filma a parte de baixo do veículo, com o equipamento bem próximo ao asfalto. "Tivemos de escolher a dedo o trecho de filmagem, já que a rua é muito esburacada", conta a diretora.
A equipe de som também teve o desafio de fazer a captação de áudio em locais extremamente barulhentos, a começar pelo próprio ônibus, já que as filmagens ocorreram principalmente durante trajetos normais, sem que a equipe interferisse no fluxo de passageiros.
Na edição, houve a preocupação de preservar o realismo da rua, mas, também, oferecer descansos e abstrações - similares às dos passageiros - ao espectador. Para isso, Pontual contou principalmente com a trilha sonora de DJ Dolores e Yuri Queiroga, que, sem orçamento para criar música original, optaram por utilizar canções típicas de Olinda e Recife.
Filmado após obtenção de patrocínio por meio de dois editais pernambucanos, "Rio Doce - CDU" ainda não tem distribuidora.
Competição de curtas
A quarta noite do Cine PE também exibiu quatro dos 18 curtas em competição, a começar pelo elogiado "A Guerra dos Gibis" (SP), de Thiago Mendonça e Rafael Terpins, sobre o surgimento de quadrinhos eróticos no Brasil durante a ditadura militar.
Representando o Rio de Janeiro foram exibidos "Três no Tri", de Eduardo Souza Lima, sobre a história por trás da foto de Pelé comemorando gol na Copa do Mundo de 1970; e "À Luz do Dia", curta bastante pessoal da diretora Joana Nin, com imagens caseiras de sua família projetadas em uma casa abandonada.
O destaque ficou para o paulista "O Fim do Filme", de André Dib, único curta de ficção da noite e certamente o mais aplaudido. O longa conta o início do romance entre um funcionário de videolocadora que têm a mania de contar o final dos filmes e uma cliente que aluga o mesmo DVD todas as vezes.
O Cine PE, que começou na sexta (29), exibirá 39 filmes, entre longas e curtas, até quinta-feira (2). Os ingressos custam R$ 10 (inteira) e R$ 5 (meia) e estão à venda nos Postos BR (até 15h de cada dia) e nas bilheterias do Centro de Convenções de Pernambuco (a partir das 17h)
* A repórter viajou a convite do Cine PE - Festival do Audiovisual