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Está cada vez mais claro para os que vivem ao longo da divisa mexicana - ou tentam protegê-la - que não existe uma fronteira totalmente segura, assim como não há cidades sem crimeA cerca da fronteira atrás da casa de Manuel Zamora sugere força e proteção, seus postes de aço perfeitamente alinhados um pouco além do Rio Grande. Mas, noite após noite, os imigrantes aparecem. Depois do escurecer e mesmo sob a luz do sol, dezenas escalam o muro ou andam ao redor dele, com sua chegada sendo anunciada pelos latidos de cães raivosos nos quintais das casas.
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"Olha", disse Zamora no início de uma manhã recente, "lá vêm eles". Ele apontou para o quintal vizinho, onde um jovem com um moletom escuro e tênis branco corria para a estrada, sua respiração visível no amanhecer de inverno. Três outros vieram a seguir, correndo para um carro branco que chegou no momento exato em que seus pés tocaram o chão.
"Não sei como o governo pode acabar com isso", disse Zamora, observando a movimentação do carro. "É impossível impedir a travessia. Você definitivamente não pode acabar com isso com leis ou barreiras."
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O desafio abalou o Congresso por décadas e, enquanto os legisladores em Washington buscam uma abrangente reforma migratória, o país mais uma vez debate o que fazer a respeito da segurança na fronteira.
De acordo com todos os indicadores, a imigração ilegal para os EUA caiu tremendamente - em parte por causa de uma aplicação mais rigorosa da lei - e manteve-se estável em níveis mais baixos por vários anos. Mas visitas a algumas localidades fronteiriças nos dois últimos anos mostram que os níveis de controle variam significativamente ao longo dessa linha.
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Muitas áreas que costumavam ser populares pontos de passagem observaram melhorias inegáveis. Abrigos para imigrantes em El Paso, Texas, agora estão muitas vezes vazios. Uma geração após San Diego ter sido invadida por milhares de imigrantes que corriam abertamente para a cidade todos os dias, peritos, agentes da Patrulha da Fronteira e deportados na mexicana Tijuana dizem que as chances de chegar ao sul da Califórnia são remotas, com as estimativas de sucesso de 1 em 10 ou piores.
Outras partes da fronteira têm visto menos progresso. No Vale do Rio Grande, travessias em grandes quantidades acontecem regularmente, com relativa facilidade, apesar dos aumentos notáveis nas capacidades da Patrulha de Fronteira. Os cortes de gastos governamentais que entraram em vigor em 1º de março podem piorar as coisas.
Está cada vez mais claro para aqueles que vivem ao longo da fronteira com o México - ou que tentam protegê-la - que não existe uma fronteira completamente segura, assim como não há cidades sem crime. Mesmo em áreas com barreiras altas, drones (aviões não tripulados) e helicópteros, a segurança fronteiriça pode ser violada.
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"A fronteira dos EUA com o México está mais sob controle agora do que em qualquer momento de nossa história", disse Robert C. Bonner, que serviu sob o presidente George W. Bush (2001-2009) como comissário da Alfândega e Proteção de Fronteiras. Mas, segundo ele, há uma falta de entendimento entre os políticos e o público a respeito do desafio. "O terreno pode ser muito diverso dependendo de que parte da fronteira se fala, e há diferentes maneiras e táticas que precisam ser colocados em questão", disse. "E isso requer uma análise quase quilômetro por quilômetro."
Suly Ochoa, 56, uma enfermeira doméstica cuja casa fica ao longo do muro da fronteira em Granjeno, Texas, diz querer algo simples da política de fronteiras: "Ela precisa ser mais inteligente." Como muitos de seus vizinhos, ela e sua família têm testemunhado os imigrantes atravessando pelas árvores e grama alta da cidade há décadas.
Eles muitas vezes ajudam os mais desesperados, chamando ambulâncias para crianças ou grávidas. Mas os moradores têm se preocupado cada vez mais com a segurança à medida que traficantes de drogas mexicanos adotaram o negócio do contrabando de pessoas e dos narcóticos pela fronteira. O crime na área de McAllen, no Texas, embora baixo, agora ocasionalmente inclui o que parecem ser assassinatos.
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Ochoa disse que ela e muitos outros em Granjeno esperavam que o muro da fronteira, que custou US$ 20 milhões, os ajudaria a se sentir mais seguros. Agora, alguns anos após sua conclusão, parece-lhe mais um desperdício. "Ele não funciona. Para mim, foi dinheiro pelo ralo."
Parte do problema é que as cercas e muros cobrem uma área limitada no setor do Vale do Rio Grande - pouco menos de 86 quilômetros. E, mesmo dentro da área cercada, por causa das fazendas e parques ribeirinhos, há várias aberturas.
Ochoa diz que vê cargas de drogas pelo menos uma vez por semana - geralmente picapes grandes com sacos de maconha na parte de trás cobertos apenas com uma lona. Travessias de imigrantes acontecem quase todas as noites, geralmente em grupos de 10 a 20 pessoas.
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Funcionários da Patrulha de Fronteira enfatizam que operam em capacidade máxima. Na década de 1990, os agentes não tinham sequer orçamento para manter os tanques de seus veículos cheios. Agora há mais pessoal, cerca de 2,5 mil agentes. Informação adicional vem de drones e helicópteros, juntamente com as câmeras criadas pelo Estado para acompanhar a vida selvagem.
Organizações criminosas dominam Reynosa, cidade mexicana na fronteira com McAllen, e são responsáveis pelo contrabando ao longo dessa seção da fronteira por meio de um monopólio sofisticado. O Cartel do Golfo controla o acesso ao rio (o chamado Rio Bravo, no México) e mata qualquer um que tente atravessar sem pagar.
Nos fins de semana, os contrabandistas muitas vezes atravessam a fronteira em vários pontos, o que significa que mais drogas e imigrantes são capturados - e mais outros conseguem passar. Os contrabandistas também se tornaram mestres de truques e desvios. Ochoa disse que tem visto carros menores serem parados pelas autoridades enquanto grandes caminhões atravessam, ludibriando as autoridades que ficaram presas na apreensão menor.
Por Damien Cave