Carolina Garcia
Decisão sobre prisão domiciliar prevista para quarta-feira (6) pode tirar jogador do presídio Nelson Hungria, onde está desde 2010. "Ele será o próximo Gil Rugai", acredita defensorApós três meses, o ex-goleiro Bruno Fernandes, acusado de planejar a morte de Eliza Samudio, volta para o banco dos réus com o uniforme vermelho da Subsecretaria de Administração Prisional (Suapi), nesta segunda-feira (4), em Contagem, na Grande Belo Horizonte. Para a defesa, que aguarda decisão sobre prisão domiciliar do jogador na próxima quarta (6), Bruno poderá se livrar do uniforme e das algemas ainda durante seu julgamento. Tiago Lenoir, um dos três defensores do réu, afirmou ao iG na sexta-feira (1º) que Bruno “entra preso no júri”, no entanto, se beneficiado por um habeas corpus, “deixará o fórum pela porta da frente”.
(A partir de amanhã, dia 4, acompanhe a cobertura do iG sobre o julgamento do caso Eliza Samudio. Informações em tempo real serão enviadas direto do Fórum de Contagem, em Minas)
“Ele será o próximo Gil Rugai”, diz Lenoir comparando Bruno ao ex-seminarista que foi condenado pelas mortes do pai e madrasta, em São Paulo. Embora Rugai tenha sido condenado a mais de 33 anos de prisão pelo duplo homicídio, réu primário, ele responde em liberdade beneficiado por um recurso que tramita no Supremo Tribunal Federal. “Bruno chega segunda-feira algemado e uniformizado. Se ganharmos na quarta, ele sai pela porta da frente no final da sessão”.
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Luiz Adolfo da Silva, que lidera a defesa do réu, afirmou estar pronto para o júri. “Tenho um compromisso com a dona Marixa [juíza] na segunda e eu estarei lá”. Sobre o recurso, Silva disse esperar uma "boa surpresa" e dizer ao seu cliente que - em caso de condenação - irá recorrer com um eventual recurso em liberdade. A confiança dos advogados surgiu após o pedido de vista do desembargador que julgava o 69º pedido de liberdade ao goleiro.
“Ele [desembargador Doorgal Amaral] analisou o processo por 70 dias e disse que não tinha o seu voto definido. Foi uma prova de dúvida. Dessa vez é diferente porque temos uma nova motivação, a prisão domiciliar”, disse Lenoir. Ele explicou ainda que as outras tentativas foram negadas porque buscavam uma total liberdade ao réu com explicações irreais. “Somos realistas. Bruno agora tem uma proposta de trabalho [o Boa Esporte Clube, de Varginha]. Ele tem o direito de voltar a trabalhar. Mantemos um trabalhador preso lá dentro.”
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A fala é uma crítica direta ao trabalho do defensor Rui Pimenta, destituído por Bruno durante o julgamento de novembro, que alegava que clubes internacionais tinham interesse em contratar o goleiro. “Humildemente, conseguimos a proposta do Boa. Bruno está animado e quer voltar a jogar. Se esse pedido [de prisão domiciliar] tivesse sido julgado antes, ele poderia estar treinando e se preparando para os campeonatos”. Segundo ele, durante encontro com o réu na segunda-feira (25), na Penitenciária Nelson Hungria, Bruno teria dito que está “dormindo tranquilo com a defesa que tem”.
Amanhã, ao lado de Bruno, sua ex-mulher Dayanne Rodrigues será julgada pelo cárcere privado e sequestro de Bruninho, filho do goleiro com Eliza. Para a acusação, caso seja condenado, o goleiro pode pegar até 41 anos de prisão.
Testemunha-chave
A pedido da juíza Marixa Fabiane Lopes, o primo de Bruno Jorge Luis Rosa será ouvido durante o júri. O Ministério Público e a defesa arrolaram Rosa após sua contraditória entrevista ao Fantástico (TV Globo). “Queremos ouvir a 9ª versão do Jorge”, disse Lenoir criticando a postura do jovem que “começou [no caso] com um depoimento de uma página e meia”.
Para a assistente de acusação Maria Lúcia Borges, atual defensora do filho de Bruno e Eliza Samudio, a entrevista de Rosa teria sido “uma manobra” dos advogados do goleiro, que tentam “desviar o foco e sustentar que Macarrão (condenado em novembro) seria o responsável por tudo”. “Eles deram um tiro no pé. Que força tem o depoimento de um menino que mudou sua versão inúmeras vezes?”, disse Maria Lúcia.
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Lenoir, no entanto, rebateu as acusações de uma suposta estratégia. “Ficamos surpresos com a entrevista, não planejamos nada. Além disso, se a gente quisesse usá-lo como uma reviravolta do caso, ele estaria mais preparado”. Para o advogado, Rosa foi “muito inocente e ficou vulnerável”. Porém, mesmo com algumas contradições, como se Bruno sabia ou não que Eliza seria morta, Lenoir acredita que essa foi “a versão mais crível” do caso.
Bruninho
Nos últimos meses, segundo sua advogada, Bruninho (hoje com três anos) tem demonstrado que “possivelmente esteve presente em todos os momentos da cena do crime”. Ao júri, a defensora disse que irá mostrar um laudo assinado por um psicólogo que atestaria o grau de agressividade e possíveis traumas sofridos pela criança.
Segundo Maria Lúcia, desenhos e depoimentos de Sônia Moura, avó materna que ganhou a guarda de Bruninho, foram utilizados durante a avaliação psicológica. No entanto, ela disse que não irá requerer a oitiva do psicólogo. “O documento é uma pré-avaliação e será arquivado ao processo.”
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Para a defensora, o laudo esclarece que Bruninho esteve no colo da mãe em todos os momentos que antecederam o crime. “Só saiu [dos braços da mãe] para ela morrer. Essa criança é um milagre”, disse Maria Lúcia enfatizando que o então bebê de quatro meses também seria executado por Marcos Aparecido dos Santos, o Bola, que será julgado em abril. A advogada citou ainda que o garoto, hoje com três anos, reagiu de forma explosiva contra carteiros e motoqueiros inúmeras vezes.
“Quando vê, ele logo começa a gritar ‘homem mau’ e chora muito. Ele não pode ver um homem com capacete. Fica incontrolável.” Segundo a denúncia, Eliza com Bruninho no colo foi levada por Macarrão e Jorge para a casa de Bola, em Vespasiano (MG). No meio do caminho, Bola em sua moto e com um capacete foi seguido pelo carro de Macarrão.
Dona Sônia, que atualmente vive com Bruninho em Anhanduí, distrito de Campo Grande (MS), passou a evitar a imprensa desde quando recebeu o atestado de óbito de Eliza. “Como nunca encontramos o corpo, ela nunca escondeu a esperança de encontrar a filha com vida. Receber o documento foi um choque. Teve uma crise de choro e entrou em depressão”, disse Maria Lucia.
Frequentando sessões de terapias e tomando antidepressivos, Sônia teria dito à advogada que “encontrará forças” para participar da nova fase do julgamento. “Morreu? Nós queremos ver o corpo. É assim que ela tem falado. Hoje ela só pede a Deus para que algum deles [réus] possa abrir a boca e confessar.”