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Em área onde criaram sua própria versão do Jardim do Éden, casais podem manter cerca de 160 tipos de plantas comestíveis; iniciativa virou tema de livroFoi o desejo de compartilhar que inspirou dois amantes de plantas a comprar há dez anos um duplex em um terreno estéril na cidade industrial de Holyoke, Massachusetts, e transformá-lo em sua própria versão do Jardim do Éden. Em breve, imaginaram, ali seria o Paraíso.
"Paradise Lot: Two Plant Geeks, One-Tenth of an Acre, and the Making of an Edible Garden Oasis in the City" ("O Lote do Paraíso: Dois Geeks, um Décimo de um Acre e a Criação de um Oásis Comestível na Cidade", em tradução livre), de Eric Toensmeier, com contribuições de Jonathan Bates, conta a história de como isso aconteceu. Publicado pela editora Chelsea Green este mês, o livro chega a tempo para a primavera (março a junho).
É uma história de amor entrelaçada com o conto de como um pequeno e estéril quintal, com uma rodovia de asfalto na frente, tornou-se um lugar que poderia sustentar cerca de 160 tipos de cultivos comestíveis, incluindo mamão, caquis, peras, morangos, mirtilos e raridades como goumi (minúsculas frutas parecidas com uma cereja azeda).
"Já dá para ver os botões das flores do fuki florescendo", disse Toensmeier, 41, numa manhã gelada há cerca de duas semanas.
"A nossa primeira flor sairá logo que a neve desaparecer em março", disse. "Comemos o talo da folha" - cozido e descascado, explica no livro, então marinado em vinagre de framboesa, gengibre ralado e shoyu. “É como um aipo com gosto estranho."
No momento, no entanto, esse paraíso é uma paisagem gelada de árvores, tocos e folhas moles, com raminhos de aipo apontando para fora da piscina congelada. No verão, flores de lótus de água florescem no local, mas, depois de uma tempestade da semana passada, ele se encontra sob dois metros de neve.
Marikler Giron Toensmeier se abaixou para pegar um pouco de aipo d'água que emergia do lago congelado. Era do tamanho de um floco de neve, mas era verde e tinha gosto de aipo. "E olha só, um louva-deus", disse.
Marikler Toensmeier, 38, natural da Guatemala, é uma das Evas.
Há sete anos, Marikler Giron Ramirez, como era conhecida, apareceu na vida de Eric Toensmeier quando ele administrava um programa agrícola para Raices Nuestras, uma organização sem fins lucrativos que administra dez hortas comunitárias na cidade. Ela trabalhava como educadora e arrecadava fundos para Heifer International, um grupo internacional sem fins lucrativos que doa animais de fazenda para famílias pobres para ajudá-los a se tornar autossuficientes e possui uma fazenda de demonstração em Rutland, Massachusetts.
Os dois começaram a namorar, apesar de Marikler, que planejava voltar à Guatemala, estar relutante. "Minhas experiências com homens não tinham sido particularmente boas", explicou.
Depois de passar os verões de sua infância na fazenda de seu bisavô na Guatemala, Marikler se acostumou a viver entre animais e insetos. Ela até mesmo conseguia dizer se o louva-deus era macho ou fêmea. "Os machos são menores", disse. "As fêmeas são grandes, fortes, especialmente depois de comer o macho."
Ela riu. Seu marido a olhou assustado. Os dois se casaram no jardim em 2007 e agora tem um filho de 14 meses chamado Daniel.
"Eric é tão bom", disse. "Estou na faculdade agora, e ele me faz dormir, toma conta do Daniel à noite, levanta-se de manhã, me deixa dormir um pouco. É difícil achar um homem assim na Guatemala."
Já Bates foi perseguido na pista de dança de um clube em Northampton, Massachusetts, por uma mulher que nunca lhe havia dado muita atenção em anos anteriores.
"Sempre gostei de Jonathan, havia algo sobre ele", disse Megan Barber, 38, que cresceu em uma fazenda no interior de Nova York. "Tomávamos sorvetes e um monte de outras coisas. Um dia nos sentamos em um banco em Northampton, e ele perguntou se eu gostaria de namorar com ele. Eu disse: 'Olha, só quero que sejamos amigos'."
Megan voltou a Boston para cursar um MBA em gestão de organizações sem fins lucrativos da Universidade de Brandeis. Uma amiga a levou para uma casa noturna, onde ela reviu Bates, disse. "Cheguei nele e perguntei: 'Você é o Jonathan?'"
Marikler e Megan foram atraídas pela vida comunitária.
Foram as duas mulheres, que cresceram entre galinhas, que sugeriram a adição de aves ao jardim, e logo começaram a cozinhar utilizando as riquezas locais. Entregues a si próprios, Toensmeier disse que "comiam alimentos crus ou aqueciam uma lata de sopa e simplesmente misturavam alguns vegetais".
Os dois homens eventualmente alugaram uma antiga fazenda em Southampton, Massachusetts, e começaram uma empresa de sementes por correspondência para plantas comestíveis diferentes - as que não eram apenas saborosas, mas também melhoravam a fertilidade do solo ou atraíam insetos benéficos.
Os homens passaram o primeiro ano analisando o local: a forma como o sol se movia através do lote durante todas as estações, onde os edifícios e árvores protegiam o terreno, quais cantos ficavam isentos do vento ou eram beneficiados pelo calor coletado de uma parede virada ao sul - fatores que são cruciais na produção intensiva.
Amigos os ajudaram a forrar o chão de cobertura morta, um método de plantio direto e rápido que envolve cobrir o chão com camadas de papelão e adubo e colocando plantas que florescem facilmente nesse tipo de solo. E também montaram uma estufa.
A estufa de plástico sem aquecimento ajudou a estender a temporada de florescimento, mas, depois que a tempestade de neve de outubro de 2011 fez com que uma árvore caísse sobre ela, Bates começou a projetar uma melhor.
A nova estrutura tem 6 metros de cada lado e 3 metros de altura para maximizar a exposição ao sol durante o inverno no lado sul, enquanto o lado norte é uma parede fortemente isolada. Ao redor do perímetro, uma parede de isolamento de 10 centímetros de espessura fica enterrada meio metro no subsolo para manter aquecido o terreno sob a casa. "Essas camas ficaram aquecidas durante todo o inverno", disse Bates.
Bates e Megan agora administram um berçário por encomenda, o Food Forest Farm, que oferece dezenas de plantas comestíveis testadas no Lote do Paraíso. E talvez em breve eles começarão a cultivar a terra da família de Megan no norte do Estado.
Toensmeier viaja ao redor do mundo, ajudando as comunidades a plantar jardins de plantas florestais que são apropriadas para o clima local. E Marikler, que considera a Heifer International como parte de sua família, pretende um dia se mudar para sua sede, em Little Rock, Arkansas, onde o clima é mais quente.
Então o Lote do Paraíso não deverá durar para sempre.
"É mais interessante estar apaixonado do que ter plantas", disse Toensmeier. "E você pode transferir suas instalações para um novo local. Mas sem dúvida vai ser difícil passar por isso. "
No entanto, ninguém parece ter muita pressa. Megan disse: "As coisas estão indo tão bem por aqui. Realmente amamos nossas vidas."
Por Anne Raver