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Assassino e vítima de armas de fogo são normalmente a mesma pessoa nos EUA

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Apesar da atenção estar sempre voltada aos ataques em massa quando se fala em controle de armamentos, taxas de suicídio com armas de fogo são cada vez maiores

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Em uma manhã de inverno, Craig Reichert encontrou o corpo de seu filho deitado no chão, como se estivesse cochilando ao lado de uma pistola de seu tio-avô. A agente da emergência disse para ele realizar os primeiros socorros, mas Reichert, que já havia tido treinamento na área da saúde, disse a ela que era tarde demais. Seu filho Kameron, 17 anos, estava morto.

Armas são como as joias da família Reichert, uma herança que carrega sua memória e tradição. Elas são utilizadas em ocasionais viagens de caça, mas, na maioria dos dias, ficam guardadas debaixo da cama. Então, quando Kameron utilizou uma delas em si mesmo, seus pais ficaram chocados e inconsoláveis.

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"Eu vivo me culpando por não ter colocado a arma em um local seguro ,como um cofre", disse Reichert. Mas, segundo ele, mesmo que a arma estivesse em um cofre "haveria duas pessoas na casa com a combinação: ele e eu".

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O debate contra as armas de fogo tem se concentrado nos fuzilamentos em massa e nas armas de assalto desde o massacre na escola em Newtown, Connecticut, mas muitos americanos morrem devido a acidentes domésticos com armas. Quase 20 mil das 30 mil mortes por armas de fogo nos EUA em 2010 foram suicídios, de acordo com os dados mais recentes do Centro para o Controle e Prevenção de Doenças. A taxa nacional subiu 12% desde 2003 e o suicídio é a terceira principal causa de morte de adolescentes.

Armas são particularmente letais. Os atos suicidas com armas são fatais em 85% dos casos, enquanto que aqueles com comprimidos em apenas 2% dos casos, de acordo com o Centro de Pesquisa de Harvard de Controle de Lesões.

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Gary Kleck, professor de criminologia da Universidade Estadual da Flórida em Tallahassee, afirmou que os proprietários de armas podem ter qualidades que os tornam mais suscetíveis ao suicídio. Podem ser mais propensos a enxergar o mundo como um lugar hostil ou se culpar quando as coisas dão errado, um lado obscuro da autossuficiência.

Autoridades de saúde em vários Estados estão tentando convencer as famílias a manterem as armas longe de parentes com problemas ou a guardar as armas de modo que adolescentes não tenham acesso a elas.

Alguns desses mesmos oficiais afirmam que o debate pelo controle das armas torna os progressos na área mais difíceis, pois a política colocou os donos de armas na defensiva.

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Armas são usadas em mais da metade de todas os suicídios, mas respondem por apenas 1% de todas as lesões relacionadas a automutilação atendidas na sala de emergência do hospital geral, disse o Dr. Matthew Miller. Overdoses, que representam cerca de 80% das tentativas de suicídio, são responsáveis por apenas 14% das mortes. "Se você utiliza uma arma", disse Miller, "geralmente não terá uma segunda chance."

Um argumento comum é o de que o suicida sempre encontra outra maneira para se matar, mesmo se nenhuma arma estiver disponível. Essa é a crença de Sharon Wells, a avó adotiva de Kyle Wells, 6 anos de idade, que se matou com a sua pistola em outubro. "Não são as armas o problema. É a pessoa", disse.

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Kyle nasceu cercado de problemas que começaram com a síndrome do alcoolismo fetal, e continuou tendo outros durante seu período na escola, onde foi intimidado incansavelmente por sua pequena estatura.

A redução do acesso aos meios letais já funcionou em outros países. Uma intervenção em Israel impediu os soldados de levarem suas armas para casa quando saíam de licença nos finais de semana - um momento em que muitos suícidios ocorrem - ajudou a reduzir a taxa de suicídio entre eles em 40%.

Michael Richins, um médico legista no condado de Lincoln, no sudoeste de Wyoming, que dá palestras sobre prevenção do suicídio, sustenta que são os proprietários de armas, e não o governo, que irão reduzir as taxas de suicídio.

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Após a morte de Kameron, seu pai não quis mais ter a arma que seu filho usou em casa, então ele a deu para seu irmão. Ainda assim, gosta de sua coleção de armas, e se opõe fortemente às discussões do controle de armas em Washington. "Eu sempre irei apoiar as armas."

Ele procurou consolo confortando outros, falando com famílias na região que passavam por trauma semelhante. Sua vida continua assombrada por uma névoa de perguntas sem respostas: O que teria acontecido se ele não tivesse punido Kameron tirando seu celular? E se ele tivesse guardado melhor as armas da família?

Sua filha, Kassidy, tenta não fazer tais perguntas. Às vezes, sente raiva de seu irmão, mas principalmente sente falta dele. "Dói ainda mais pensar no que poderia ter acontecido", disse, "pois não vai mudar nada".

Por Sabrina Tavernise


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