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Depois de mais de 11 anos de guerra, a quantidade de equipamentos americanos acumulados no Afeganistão totaliza mais de 600 mil peças avaliadas em US$ 28 bilhõesÀ medida que começam a concretizar a ordem do presidente Barack Obama para reduzir as tropas americanas no Afeganistão em mais da metade no próximo ano, os militares percebem que tirar 34 mil soldados será a parte fácil: basta levá-los a um aeroporto, colocá-los em centenas de aviões de transporte e transportá-los para casa.
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Mas depois de mais de 11 anos de guerra, a quantidade de equipamentos americanos acumulados no Afeganistão totaliza mais de 600 mil peças avaliadas em US$ 28 bilhões. Nesse arsenal estão sistemas que sempre apresentam desafios para o transporte internacional, incluindo veículos blindados resistentes a minas terrestres e veículos de combate de infantaria Stryker, que pesam toneladas individualmente.
Até agora, os veículos pesados foram retirados via ar porque o Afeganistão não tem conexão litoral, conta com um sistema viário primitivo e a milícia islâmica do Taleban continua forte em muitas partes do país. Mas o problema real para a retirada do Afeganistão é o mesmo que dificultou a luta no país: a relação tênue com o vizinho Paquistão, que oferece a rota terrestre mais barata até o porto mais próximo. No entanto, atravessar as fronteiras não é uma tarefa confiável.
Funcionários de logística têm uma lembrança muito vívida de que o Paquistão fechou as rotas após ataques aéreos americanos matarem 24 soldados paquistaneses em um posto na fronteira com o Afeganistão em novembro de 2011. As rotas foram reabertas apenas em julho, depois que Washington pediu desculpas. Apesar disso, as autoridades americanas esperam que até 60% de seus equipamentos no Afeganistão possam ser transportados por meio do Paquistão.
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Quando Obama fez seu discurso sobre o Estado da União em 12 de fevereiro, quase 40 mil veículos de grande porte permaneciam no Afeganistão. Os militares têm como objetivo retirar 1,5 mil deles a cada 30 dias, algo que pode ser feito - em um bom mês - por via aérea. Mas há apenas 22 meses até que a missão de combate americana no país seja encerrada em dezembro de 2014. Será um desafio conseguir que o Paquistão abra suas fronteiras de forma permanente - e será caro.
Os militares, naturalmente, têm prática na movimentação de grandes quantidades de material, e a maioria das autoridades de alto escalão envolvidas no que caracterizam como esforço "retrógrado" fez o mesmo no Iraque. Mas esses oficiais ressaltam que o Iraque oferecia um sistema viário sofisticado e terreno plano. Ainda melhor, o Iraque faz fronteira com o Kuwait, onde o equipamento pôde ser armazenado em grande quantidade em bases americanas antes de ser enviado para casa sem pressa.
"O Afeganistão não é o Iraque, e é mais difícil", disse o tenente-general Raymond V. Mason, vice-chefe de pessoal e logística do Exército. "O país fica no interior - sem acesso marítimo. E não temos o Kuwait. Não temos nenhuma ajuda. No Iraque, no último dia, você ainda podia enviar tudo para o Kuwait, e pensar nisso depois."
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Funcionários do Comando de Transporte do Exército disseram que outros centros de transporte importantes, além de Karachi, incluem portos em lugares como Emirados Árabes Unidos, Romênia e Espanha.
Depois, há a questão de para onde o equipamento irá quando deixar o Afeganistão. Conforme a retirada se acelera, as Forças Armadas negociam com os civis do Pentágono sobre a melhor forma de classificar o equipamento: algumas armas e equipamentos devem ser levados para casa, reparados e redistribuídos para toda a força de combate, outros serão vendidos ou doados para os afegãos ou outros parceiros da região, e alguns serão sucateados porque estão danificados ou obsoletos.
Membros do Congresso observam atentamente para ver como o Pentágono lida com os veículos blindados no Afeganistão, que fizeram parte de um esforço de US$ 45 bilhões para proteger os soldados americanos de bombas de beira de estrada. Os militares não querem pagar para levá-los de volta aos EUA e reformá-los se não serão relevantes para guerras futuras. Da mesma forma, os oficiais não querem se desfazer deles ou doá-los aos afegãos ou outros aliados - para depois ter de comprá-los novamente no futuro.
Outros desafios permanecem. Mesmo que as forças sejam retiradas dentro do prazo definido por Obama, soldados permanecerão no país para treinar e auxiliar as forças afegãs - e para facilitar a retirada do equipamento e proteger esse esforço.
Autoridades alertam que, à medida que o número de tropas americanas diminuir, os soldados viverão de maneira cada vez mais rústica já que instalações para refeições, ginásios e outros serviços de apoio serão retirados com antecedência.
Por Thom Shanker