Priscilla Borges
Dom Raymundo Cardeal Damasceno Assis, que participará da escolha do próximo papa, não acredita em interferências do papa na escolha de quem o sucederá após a renúnciaDom Raymundo Damasceno Assis, um dos cinco representantes brasileiros entre os cardeais que participarão da eleição do próximo papa, disse nesta segunda-feira (11) não acreditar que o papa Bento 16 vai opinar na escolha de seu sucessor. O pontífice anunciou nesta segunda-feira que deixará o comando da Igreja Católica no próximo dia 28, e alegou idade avançada e falta de vigor para justificar sua saída.
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“Eu creio que ele, por seu temperamento muito introvertido, de meditação, vai se recolher em um lugar de oração e não emitirá nenhuma opinião sobre a eleição do seu sucessor e em nenhum momento durante o governo do próximo papa”, afirma o arcebispo de Aparecida (São Paulo).
Dom Damasceno é um dos 119 cardeais do mundo aptos a votar no conclave que vai eleger o próximo líder da Igreja Católica. Para votarem, os cardeais precisam ter menos de 80 anos. Para ele, o sucessor de Bento 16 não precisa, necessariamente, ser jovem (já que o atual papa alegou que o peso da idade e o cansaço físico o levaram a renunciar ao cargo). Muito menos ter o mesmo perfil de Bento 16.
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“Nenhum papa é igual ao outro. De certo modo, a escolha corresponde às exigências da Igreja naquele momento. Cabe aos cardeais analisar os desafios da Igreja hoje. Estamos vivendo um momento de mudança de época, não mais uma época de mudanças. São mudanças profundas no comportamento das pessoas, nos valores que, de certo modo, unificavam as vidas das pessoas”, disse em entrevista ao iG.
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O arcebispo diz que os cardeais farão a escolha “sob a luz do Espírito Santo”, abertos aos “sinais que manifestam o desejo de Deus” para a Igreja. “É bom lembrar que essa não é uma reunião de políticos que vão eleger o papa pensando em seus próprios interesses. Não há candidato a papa”, afirmou. “Nem sempre a idade é importante, porque é preciso ter experiência, sabedoria e vivência para assumir esse desafio”, completou.
Escolha responsável
Dom Damasceno, assim como outros arcebispos, se disse surpreso com a decisão de Bento 16. Defendeu que fiéis e líderes religiosos se unam nesse momento e rezem. Lembrou que o papa é um “representante” de Cristo e, por isso, as pessoas não devem temer o futuro da Igreja após a renúncia do atual pontífice.
“Ele tomou a decisão de maneira consciente, livre e responsável, diante das condições físicas dele e das exigências e responsabilidades do cargo. Ele certamente percebeu que o peso do cargo e da idade estava afetando o exercício de seu ministério. Por ser um homem muito realista, julgou que o melhor seria que outro sucessor continuasse a missão. A Igreja continua e devemos agradecer e louvar a Deus pelos sete anos de seu ministério”, defendeu.