Testemunhas da tragédia em Santa Maria (RS), onde um incêndio na madrugada de domingo deixou ao menos 232 mortos, relataram cenas de desespero e morte na casa noturna Kiss. Abaixo, alguns de seus depoimentos, bem como o da presidente Dilma Rouseff, que está na cidade gaúcha para acompanhar os desdobramentos do episódio:
Sargento Artur Rigue: "Nunca presenciei uma tragédia como essa em minha carreira", disse o sargento, que participou dos esforços de resgate após o incêndio na boate Kiss. Ele contou que havia dezenas de corpos "empilhados" em diversas partes da boate. "Alguns estavam no banheiro. Eles morreram asfixiados."
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Saída principal da boate estava fechada após incêndio, dizem testemunhas
Jenifer Rossi, estudante de odontologia, disse ao diário que comemorava seu aniversário de 19 anos na casa noturna quando percebeu o incêndio - provocado, segundo ela e outras testemunhas, por um sinalizador acendido por um integrante da banda que tocava no local. "(A tragédia) fui muito rápida. Quando eu vi que a coisa estava feia, peguei uma amiga pelo braço e corri", conta. "Muitos conhecidos estão entre as vítimas. Não era o aniversário que eu tinha planejado". Ela disse que a saída do local foi dificultada por haver apenas uma porta de saída.
Murilo de Toledo Tiecher, estudante, afirmou em mensagem em seu perfil no Facebook que foi um dos "50 primeiros a sair" da casa noturna após o início do incêndio. "No inicio do tumulto, tentaram segurar as portas com os seguranças e manter as pessoas ali pra que não saíssem da boate! Não sei se pensavam que era uma briga e nao queriam que saissem sem pagar! Só depois que a multidão derrubou os seguranças eh que viram a merda que fizeram", afirmou.
Michele Pereira, auxiliar de escritório, disse à Folha de S. Paulo que estava em frente ao palco da boate quando o incêndio começou e confirmou que o fogo começou com sinalizadores disparados pela banda. "Aí o teto começou a pegar fogo, estava bem fraquinho, mas em questão de segundos começou a se alastrar", contou.
Ela conseguiu sair da boate e viu "muita gente sendo pisoteada no desespero" para deixar o local. "Foi terrível, cena de filme de horror! Corpos caídos pelo chão, muita gente desmaiada, chorando, tentando respirar porque a fumaça era muita", contou ao jornal.
Fernanda Bona, fotógrafa, à GloboNews disse que conseguiu deixar o local em cinco minutos e que não foi impedida. "Eu estava em estado de choque. Achei que iam conseguir controlar o fogo. [Mas] dez minutos depois estava um horror, muita gente ferida e intoxicada." Ela disse que a boate Kiss é muito conhecida em Santa Maria e muito frequentada pelos estudantes da região.
Michele Schneid, caixa da boate, em depoimento reproduzido pela Associated Press, disse que os frequentadores da Kiss começaram a gritar "fogo", o que causou tumulto e correria em direção à saída. "Muitas pessoas correram para os banheiros e acabaram morrendo sufocadas", declarou.
Já a presidente Dilma Rousseff se emocionou ao comentar a incêndio no Rio Grande do Sul: "Eu queria dizer para a população do nosso país e para a população de Santa Maria o quanto, nesse momento de tristeza, nós estamos juntos e necessariamente iremos superar mantendo a tristeza", declarou. Ela estava em viagem oficial ao Chile, mas cancelou seus compromissos e viajou para Santa Maria.
A presidente diz que o governo federal irá fornecer recursos para ajudar na identificação dos corpos e no socorro às vítimas. Ainda segundo Dilma, o Rio Grande do Sul tem uma boa estrutura de saúde, mas o governo deslocará "tudo que for necessário" e disponibilizará uma base da Aeronáutica às autoridades locais.