iG São Paulo
População vai às urnas para decidir sobre nova proposta de Constituição após dias de confrontos que deixaram mortosEgípcios participam, neste sábado (15) da primeira etapa do referendo sobre uma proposta de Constituição que tem polarizado a nação. De um lado o presidente Mohammed Morsi e os seus apoiantes islâmicos apoiam a Carta, enquanto os liberais, muçulmanos seculares e cristãos se opõem a ela. O esboço da Carta foi aprovado às pressas em meio à controvérsia causada por um decreto que garantia superpoderes ao presidente Mohammed Morsi.
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Com o país dividido por uma crise política definida por protestos em massa e muita violência, a votação se transformou em uma grande disputa. Esta em jogo a decisão se o Egito deve se direcionar para um estado religioso com a Irmandade Muçulmana de Morsi e o bloco salafista ultraconservador, ou com a manutenção de um estado islâmico que mantém as tradições seculares. A segunda rodada da votação acontece apenas no dia 22.
"O tempo do silêncio acabou", disse Essam el-Guindy, um funcionário de banco, enquanto esperava o momento de votar no Cairo. "Eu não estou de acordo com esta Constituição. Morsi não deveria ter deixado o país dividido assim"
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El-Guindy era um entre os 20 homens que estavam na fila esperando para votar. Uma fila separada e só para mulheres tinha o dobro de pessoas. Em outros lugares no Cairo, centenas de eleitores formaram filas nos locais de votação quase duas horas antes das eleições começarem.
"Eu li partes da Constituição e não viu nenhuma razão para votar contra ela", disse Rania Wafik que segurava seu bebê recém-nascido, enquanto espera na fila de votação. "Precisamos seguir em frente e eu não vejo nenhuma razão para votar contra a Constituição."
O momento é de tensão no Egito, uma tropa armada de cerca de 120 mil pessoas foi destacada neste sábado para proteger os locais de voto. Um grupo radical islâmico também disse que vai enviar seus próprios membros para defender os postos ao lado do exército e da polícia.
Críticos estão preocupados com a legitimidade de a carta depois de a maioria dos juízes disse que não iria supervisionar a votação. Grupos de direitos humanos também alertam para a possibilidade de fraude generalizada, e a oposição diz que a decisão de manter o voto em dois dias, para compensar a falta de juízes pode influenciar a opinião do eleitor.
O Egito tem 51 milhões de eleitores, dos quais cerca de 26 milhões devem votar neste sábado e o restante na próxima semana. Votação neste sábado é realizada em 10 províncias, incluindo o Cairo e a cidade portuária de Alexandria, no Mediterrâneo. Para passar, a Constituição deve ser aprovada por mais de 50 por cento dos eleitores que votaram.
Na sexta-feira (14), islamitas egípcios entraram em confronto com oponentes do projeto da nova Constituição na cidade mediterrânea de Alexandria. A violência em Alexandria, iniciada após um clérigo untraconservador defender o "sim" no referendo e caracterizar os opositores como "seguidores dos infiéis", deixou ao menos 19 feridos.
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Desde a aprovação do decreto de superpoderes em 22 de novembro, confrontos no Cairo e em outras cidades deixaram aos menos oito mortos e centenas de feridos. Com a justificativa de que a medida aceleraria a transição democrática do país, a iniciativa garantia imunidade judicial a todas as decisões do presidente e impedia a Assembleia Constitucional de ser contestada legalmente. Após semanas de pressão, Morsirevogou o decreto no dia 8, mas recusou-se a cancelar o referendo constitucional.
(Com informações da AP)