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Em busca de coesão, presidente russo apela ao patriotismo

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Seis meses em seu terceiro mandato presidencial, Putin tenta criar ideologia de base nacionalista para consolidar poder após meses de protestos

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Mais de 12 anos como o principal líder da Rússia, Vladimir Putin trouxe o mesmo pragmatismo implacável para uma ampla gama de problemas - guerras separatistas, guerras de gás, oligarcas rebeldes e um rublo em colapso.

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Agora ele está diante de um problema que nunca havia se deparado anteriormente e não condiz com sua mentalidade. Seis meses em seu terceiro mandato presidencial, após uma onda de protestos de rua, Putin precisa de uma ideologia - uma ideia poderosa o suficiente para consolidar o país em torno de seu governo.

Uma das poucas estratégias claras a surgir nos últimos meses é a de um esforço para mobilizar os elementos conservadores da sociedade. Milícias de cossacos são revividas, autoridades regionais se esforçam para apresentar programas de "educação patriótica" e clubes de discussão eslavófilas foram abertos em grandes cidades com o slogan "Contribua com uma ideia nacionalista!"

"Ele com certeza está pensando em adotar uma ideologia", disse Dmitri S. Peskov, secretário de imprensa de Putin e assessor, em uma entrevista. "Ter uma ideologia é muito importante. Patriotismo é muito importante. Sem a dedicação das pessoas, sem sua confiança, não é possível ter um impacto positivo do que você está fazendo, de seu trabalho."

Ideais também estão mudando dentro da classe dominante. A doutrina pró-Ocidente, e de modernização do ex-presidente Dmitri Medvedev, foi substituída por ideais de "pós-democracia" e nostalgia imperial. Os principais intelectuais do país desafiam a premissa dirigida a esse país há 20 anos de que a Rússia deveria tentar imitar instituições ocidentais liberais. "Valores ocidentais" são mencionados com desdém.

Todo ano, estudiosos se reúnem para um evento do Clube de Discussão de Valdai, onde se sentam ao redor de uma mesa e fazem inúmeras perguntas a Putin durante horas. Peskov disse que este ano houve menos perguntas a respeito da democracia e direitos humanos pois esses temas não estão mais em voga.

Embora a Rússia não tenha intenção de se distanciar do Ocidente em relação à sua política externa e agora busque relações bilaterais mais rígidas, Peskov disse que o país não vai mais tolerar a interferência de estrangeiros em seus assuntos internos.

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Em setembro, durante um debate sobre a "nacionalização da elite", um parlamentar ligado ao Kremlin propôs uma restrição a oficiais que possuíssem bens no exterior, dizendo que isso cria dívidas com governos estrangeiros e poderia levá-los a trair a Rússia. A proposta encontrou resistência, inclusive de Medvedev, e agora se encontra no limbo.

Peskov disse que Putin tinha opiniões divergentes sobre a medida e não tinha chegado a uma decisão final sobre o assunto.

"Se você trabalha para o Estado - se é um funcionário público de um certo nível, especialmente - e possui um investimento no exterior, pode ser facilmente influenciado por questões externas, o que pode prejudicar os interesses do Estado", disse. "Você não é um bem estável em relação a ser firme na defesa dos interesses do Estado. Mas, por outro lado, estamos falando de algo que nos leva ao fato de que é muito mais barato comprar um apartamento em algum lugar na Bulgária do que em Moscou. Portanto, há uma grande discussão sobre isso. "

Alexander Rahr, um dos especialistas que participaram do Clube de Discussão de Valdai, disse que saiu com a sensação de que, apesar de Putin ter se beneficiado politicamente ao abraçar uma linguagem mais conservadora, há algo mais profundo acontecendo.

"Ele está preparando os russos cada vez mais para entender que a Rússia não pertence ao Ocidente, à cultura Ocidental ou à Europa da maneira que foi discutida durante a década de 1990", disse Rahr, autor de uma biografia de Putin. "Ele está preparando os russos para algo além. Seja lá o que isso quer dizer."

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Em público, Putin demonstrou sua abertura para a busca de ideias patrióticas. Em uma reunião em setembro, que começou como um impulso nacional para "educação patriótica", ele disse que o conflito sobre a "identidade cultural, valores espirituais e morais e os códigos morais" tornaram-se um campo de batalha intensa entre a Rússia e os seus inimigos.

"Não é sinônimo de fobia, isso é algo que realmente está acontecendo", disse Putin, de acordo com o jornal Rossiyskaya. "Essa é pelo menos uma das formas de batalhas competitivas que muitos países enfrentam, assim como a batalha por recursos minerais. A distorção da consciência nacional, histórica e moral já chegou a levar mais de uma vez o Estado à fraqueza, perda de soberania e ao colapso ".

Sergei A. Karaganov, um decano da Escola Superior de Economia de Moscou, disse que acreditava que a Rússia passaria vários anos em busca de "um conjunto de unificação de ideias" sob a liderança de Putin.

"Ele é um pensador muito bom em nível operacional - ele é prático -, mas em certos pontos é necessário oferecer uma visão", disse Karaganov. "Está claro que o que está acontecendo agora é a reconstrução dos laços da Rússia com a sua história, que foram rompidos."

Uma possível complicação nessa questão, observou, é que os momentos de glória e de união da Rússia sempre estiveram associados a uma força invasora.

"A Rússia tem uma situação fantástica, muito estranha e muito alheia - o país não possui inimigos", disse. "Os EUA foram formados por algumas palavras escritas em sua Constituição. Nosso país foi formado em torno de defesa, e, de repente, não há nenhuma ameaça."

Por Ellen Barry


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